Os truques do Jornal Nacional
Vocês sabiam que aquela entonação vibrante dos apresentadores do Jornal Nacional, da Rede Globo (no ar há 40 anos), é uma parte de truques para manipular a emoção dos telespectadores? E que também faz da engenharia de manipulação a leitura rápida de manchetes, seguida de cortes rápidos de imagens? Detalhe: o JN sempre começa com noticiais ruins. Entrevistei para a Singular o jornalista e doutor em Semiótica da Universidade de São Paulo, Hilton Hernandes, e ele disse que esses minutos iniciais são os mais problemáticos do noticiário para se obter a adesão do telespectador, e por isso é usado o impacto afetivo.
E eu perguntei a ele:
Presente na vida de qualquer cidadão, a televisão tem poder inegável. Como o senhor explica a manipulação da emoção do público pelo Jornal Nacional? Quais os truques que diferenciam o JN dos demais telejornais e por que há tanto tempo é campeão de audiência?
Hernandes: “Essa questão é bastante complexa e é analisada no meu livro A mídia e seus truques. Vou apontar apenas alguns aspectos mais superficiais. No JN, há uma profusão de estímulos, como constante mudança de vozes, de cenas, de repórteres e de apresentadores para captar e manter a atenção – bastante frágil – do telespectador. O verbal, principalmente a fala, assume um papel estratégico. Um noticiário de televisão, como o Jornal Nacional, tem a possibilidade de fazer uma narrativa visual, mas prefere construir inicialmente uma lógica “verbal” na qual são intercalados trechos de vídeos. O telespectador ouve, vê e “comprova” a existência de personagens e lugares citados. Tente só ouvir o JN no rádio. É possível perceber que o programa é perfeitamente compreensível. Há um ritmo muito acelerado, não dá tempo de refletir sobre o que é dito e mostrado. O JN também “espalha” os assuntos, muito mais preocupado em criar esse ritmo do que em organizar rigidamente o material, como no caso dos impressos, que dividem tudo em editorias. Isso quer dizer que notícias longas devem ser colocadas junto de outras curtas. Momentos de aceleração são compensados por outros, de desaceleração. Pode-se começar com um assunto de saúde em um dia, de segurança pública no outro e de política no seguinte. Como outros jornais de outras mídias, o JN, porém, sempre começa muito tenso, com notícias de impacto negativo sobre a vida dos telespectadores, e vai, aos poucos, apresentando assuntos mais leves. Chamo isso de estrutura happy end. Não sem razão, o apelido na Globo da última notícia que fecha o JN é “boa noite”.
Vocês sabiam que aquela entonação vibrante dos apresentadores do Jornal Nacional, da Rede Globo (no ar há 40 anos), é uma parte de truques para manipular a emoção dos telespectadores? E que também faz da engenharia de manipulação a leitura rápida de manchetes, seguida de cortes rápidos de imagens? Detalhe: o JN sempre começa com noticiais ruins. Entrevistei para a Singular o jornalista e doutor em Semiótica da Universidade de São Paulo, Hilton Hernandes, e ele disse que esses minutos iniciais são os mais problemáticos do noticiário para se obter a adesão do telespectador, e por isso é usado o impacto afetivo.
E eu perguntei a ele:
Presente na vida de qualquer cidadão, a televisão tem poder inegável. Como o senhor explica a manipulação da emoção do público pelo Jornal Nacional? Quais os truques que diferenciam o JN dos demais telejornais e por que há tanto tempo é campeão de audiência?
Hernandes: “Essa questão é bastante complexa e é analisada no meu livro A mídia e seus truques. Vou apontar apenas alguns aspectos mais superficiais. No JN, há uma profusão de estímulos, como constante mudança de vozes, de cenas, de repórteres e de apresentadores para captar e manter a atenção – bastante frágil – do telespectador. O verbal, principalmente a fala, assume um papel estratégico. Um noticiário de televisão, como o Jornal Nacional, tem a possibilidade de fazer uma narrativa visual, mas prefere construir inicialmente uma lógica “verbal” na qual são intercalados trechos de vídeos. O telespectador ouve, vê e “comprova” a existência de personagens e lugares citados. Tente só ouvir o JN no rádio. É possível perceber que o programa é perfeitamente compreensível. Há um ritmo muito acelerado, não dá tempo de refletir sobre o que é dito e mostrado. O JN também “espalha” os assuntos, muito mais preocupado em criar esse ritmo do que em organizar rigidamente o material, como no caso dos impressos, que dividem tudo em editorias. Isso quer dizer que notícias longas devem ser colocadas junto de outras curtas. Momentos de aceleração são compensados por outros, de desaceleração. Pode-se começar com um assunto de saúde em um dia, de segurança pública no outro e de política no seguinte. Como outros jornais de outras mídias, o JN, porém, sempre começa muito tenso, com notícias de impacto negativo sobre a vida dos telespectadores, e vai, aos poucos, apresentando assuntos mais leves. Chamo isso de estrutura happy end. Não sem razão, o apelido na Globo da última notícia que fecha o JN é “boa noite”.
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