O CASO DO SANTO SEM CABEÇA
Arievaldo Viana
João Batista Azevedo dos Santos, conhecido popularmente como Jota Batista, é um dos novos poetas canindeenses de reconhecido talento e de inspirada verve humorística. São de sua autoria dois folhetos bastante curiosos relatando dois fatos distintos relacionados com São Francisco de Canindé. O primeiro refere-se à construção de uma estátua gigantesca de São Francisco, em Canindé e o outro, intitulado A Verdadeira História da Viagem de São Francisco ao Piauí, mexe com o fanatismo religiosos de muitos canindeenses que acreditam que a cidade irá se acabar, caso a estátua milagrosa de São Francisco seja retirada do altar-mor da Basílica.
O primeiro folheto refere-se a um monumento projetado em Canindé, do qual foi concluído apenas a cabeça, ao passo que na vizinha cidade de Caridade-CE, tentava-se construir uma estátua de Santo Antonio, da qual apenas o corpo ficou erguido no topo de um serrote. Deixemos falar o poeta Celso Góes Almeida, que assim se manifestou na apresentação do folheto O Santo do Ano 2001 – São Frantônio, deste inspirado cordelista: “Jota Batista tem revelado, através de seus trabalhos poéticos um infinito senso de humor e irreverência (...) Neste cordel , deixa a marca indelével de seu humor apurado, na composição de versos de dez linhas, onde narra as dificuldades encontradas pelos nossos escultores para a conclusão das estátuas de Santo Antonio e São Francisco (Canindé)”.
Assim começa o irreverente folheto:
O primeiro folheto refere-se a um monumento projetado em Canindé, do qual foi concluído apenas a cabeça, ao passo que na vizinha cidade de Caridade-CE, tentava-se construir uma estátua de Santo Antonio, da qual apenas o corpo ficou erguido no topo de um serrote. Deixemos falar o poeta Celso Góes Almeida, que assim se manifestou na apresentação do folheto O Santo do Ano 2001 – São Frantônio, deste inspirado cordelista: “Jota Batista tem revelado, através de seus trabalhos poéticos um infinito senso de humor e irreverência (...) Neste cordel , deixa a marca indelével de seu humor apurado, na composição de versos de dez linhas, onde narra as dificuldades encontradas pelos nossos escultores para a conclusão das estátuas de Santo Antonio e São Francisco (Canindé)”.
Assim começa o irreverente folheto:
“Na vizinha Caridade
Planejaram um monumento
Que ia ser o sustento
Do turismo da cidade
E havendo necessidade
De realizar o sonho
Neste verso aqui exponho:
Depois de tanto bulir
Resolveram construir
A estátua de Santo Antonio.
Planejaram um monumento
Que ia ser o sustento
Do turismo da cidade
E havendo necessidade
De realizar o sonho
Neste verso aqui exponho:
Depois de tanto bulir
Resolveram construir
A estátua de Santo Antonio.
Que o leitor me acredite
No que agora vou falar
Espero que não se irrite
Também não quero aumentar
A água sumiu na baixa
Sumiu dinheiro no caixa
Sumiu de tudo, seu moço,
Depois da pouca colheita
A estátua só foi feita
Do pé até o pescoço”.
O monumento, projetado em Caridade, (que ficou apenas no corpo) teria dimensões gigantescas, devendo equiparar-se ao Cristo Redentor, no Rio de Janeiro, e à estátua do Padre Cícero, em Juazeiro do Norte. Canindé, centro de uma das maiores romarias do País, não poderia ficar atrás, por isso resolveu partir para construção de um monumento de proporções similares:
No que agora vou falar
Espero que não se irrite
Também não quero aumentar
A água sumiu na baixa
Sumiu dinheiro no caixa
Sumiu de tudo, seu moço,
Depois da pouca colheita
A estátua só foi feita
Do pé até o pescoço”.
O monumento, projetado em Caridade, (que ficou apenas no corpo) teria dimensões gigantescas, devendo equiparar-se ao Cristo Redentor, no Rio de Janeiro, e à estátua do Padre Cícero, em Juazeiro do Norte. Canindé, centro de uma das maiores romarias do País, não poderia ficar atrás, por isso resolveu partir para construção de um monumento de proporções similares:
“Seguindo este traçado
E movido pela fé
Houve outro plano bolado
Em nosso bom Canindé.
A idéia é do prefeito
Que assim que foi eleito
Se mostrou bastante arisco
Mal ele saiu do ovo
Já foi prometendo ao povo
A estátua de São Francisco”.
E movido pela fé
Houve outro plano bolado
Em nosso bom Canindé.
A idéia é do prefeito
Que assim que foi eleito
Se mostrou bastante arisco
Mal ele saiu do ovo
Já foi prometendo ao povo
A estátua de São Francisco”.
O problema é que a parca verba liberada só deu para concluir a cabeça da citada escultura, vindo daí a justa reclamação do poeta:
“Só não quero que ele esqueça
De fazer o tronco e membro
Se ele esquecer eu me lembro
Nem que ele se aborreça...
Se a estátua ficar de pé
Vem gente pra Canindé
Do campo e da Capital,
Se o restante não for feito
Eu tenho dentro do peito
Uma idéia genial”.
A idéia “genial” engendrada por Jota Batista é colocar a estátua no limite entre os dois municípios. Caridade entraria com o corpo inacabado de Santo Antonio e Canindé com a cabeça de São Francisco. Vejam só o nome escolhido para o novo “padroeiro”.
“Tenho outra idéia melhor
A pagode não me tome
Pra coisa ficar menor
A gente junta os dois nomes
Sacoleja na cumbuca
Balança o corpo e a cuca
Eu to com um medo medonho,
A seca ta nos matando
E o povo está apelando:
- Valei-nos, ó São Frantônio!
A pagode não me tome
Pra coisa ficar menor
A gente junta os dois nomes
Sacoleja na cumbuca
Balança o corpo e a cuca
Eu to com um medo medonho,
A seca ta nos matando
E o povo está apelando:
- Valei-nos, ó São Frantônio!
O poeta, sem perder o senso de humor, prevê logo uma briga entre as duas cidades, desejosas de saber para que lado ficaria a frente do monumento. Mais uma vez, Jota Batista comparece com outra de suas idéias:
“E para diminuir
O sofrimento do povo
Eu já tenho um plano novo
Esse é bom se discutir
Usando a imaginação
A gente agrada ao povão
E termina com a história,
Acredito que o Bibi
Não se nega a construir
Uma estátua giratória”.
O sofrimento do povo
Eu já tenho um plano novo
Esse é bom se discutir
Usando a imaginação
A gente agrada ao povão
E termina com a história,
Acredito que o Bibi
Não se nega a construir
Uma estátua giratória”.
Depois de desculpar-se com os escultores Bibi e Franzé de Aurora, autores das duas obras, Jota Batista resolve penitenciar-se também a Deus e aos dois santos vítimas da brincadeira:
“Minha mente eu não alugo
Peço aqui perdão a Deus
Aos dois santos não expurgo
Isso é apenas versos meus
Não levem a sério o artista
Inda mais Jota Batista
Por causa deste rabisco
De toda fé que disponho
Dou vivas a Santo Antônio
E palmas pra São Francisco”.
Peço aqui perdão a Deus
Aos dois santos não expurgo
Isso é apenas versos meus
Não levem a sério o artista
Inda mais Jota Batista
Por causa deste rabisco
De toda fé que disponho
Dou vivas a Santo Antônio
E palmas pra São Francisco”.
Embora não tenha sido muito rigoroso no esquema das rimas, há de se convir que o relato de Jota Batista está calcado no mais fino humorismo, lembrando em certos momentos a verve prodigiosa de José Pacheco e Leandro Gomes de Barros. O caso virou matéria na imprensa brasileira.
* Matéria publicada na Singular, edição de março/2002.
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