20 de jun. de 2009



Na Singular tem uma seção chamada O Louco da minha rua. As pessoas são convidadas para relatarem suas lembranças sobre aquele personagem maluco que provocava algazarra na moçada, mas, ao mesmo tempo, metia medo na galera. O meu amigo, o jornalista Roberto Maciel, lembrou a figura que passou pela sua vida:
“Maluco, maluco mesmo que se preza tem humores ciclotímicos – mesmo que não saiba lá o diabo que é isso.
Twist era assim.
Parambulava pelas imediações da igreja do Cristo Rei, pertinho do Colégio Militar, alternando-se entre boas gaitadas e umas expressões de zanga.
Quer dizer, perambulava por um trecho obrigatório do percurso que eu costumava fazer entre a minha casa, na rua Rodrigues Júnior e o da minha avó Maria, na Pinto Madeira.
E bastava que algum moleque gritasse “Dança Twist!”, para ele ensaiar uns passos que, lembrando hoje, eram até aprumadinhos. Sacolejava bem, o danado, de calças quadriculadas e óculos estilo Emerson Fittipaldi. É o novo!
E eu, menino “veio”, aproveitava toda oportunidade para implicar com ele – como fazia, afinal, qualquer menino malino daquelas plagas. Era implicar e correr. Porque depois da arenga, o Twist costumava dar uma carreira das boas na mundiça. Era lei. Fazia parte daquele ritual maldosamente infantil. Se não corresse, tinha algo de errado.
Mas estava ali um cara gente boa, diziam os que o conheciam mais de perto. Vai ver, tinham razão: se ele alcançasse algum chateador, nada mais fazia do que passar um pito. Só isso.
Sabe Deus de onde ele tirou aquela mania de dançar. Ou quem a descobriu. Sabe Deus o nome dele. Ou onde morava. Sabe Deus que fim tomou.
Mas veja: era só quando estava junto de outros meninos que dava para abusar do show do Twist. A gente gritava a tal senha, quantas vezes fosse necessário, para ver o doidinho dançar até suar.
E suar em bicas.
Maldade nossa.
Sob o olhar rigoroso da minha mãe, e só se ela não visse o Twist nas proximidades, já que ralhava com a gente, preventivamente o máximo possível era aperreá-lo uma vez. Depois do carão materno –“Não mexe com o rapaz, menino! Deixa o coitado” – e da promessa de que nunca mais faria isso, a gente se aquietava. Até a próxima vez, Twist.
Mas que minha mãe ria, ria. Um sorrisozinho meio disfarçado, tá certo. E piedoso. Mas que não dava pra esconder.
Às vezes, me pego na dúvida: não há mais maluquinhos como o Twist ou olhos adultos, desprovidos daquela santa e angelical traquinagem, não os enxergam mais?

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