8 de jun. de 2009


Além de ter alcançado sucesso nacional, o cantor e compositor cearense Raimundo Fagner sempre esteve envolvido em confusões, por conta de acusações sobre plágio. Em 1999, pela primeira vez na imprensa cearense, foi publicada, na Singular, uma matéria, detalhando os imbróglios do artista. Vejam o texto:


Manera Frufru Manera
O clássico dos plágios

Luciano Almeida Filho, crítico de música do Jornal O Povo


O cearense Raimundo Fagner pode entrar para a história recente da Música Brasileira com o disco que mais recebeu acusações de plágio, comprovadas e até assumidas, posteriormente.
O trabalho em questão, é justamente o seu primeiro LP, Manera frufru manera, de 1973. Muito criticado, quando do seu lançamento, é hoje, considerado um disco fundamental, daquele tipo discoteca básica, para entender a Música Popular Brasileira feita durante a década de 70. Há quem inclusive o considere, peça fundamental da chamada “invasão nordestina”.
Bem...É desse disco a belíssima Canteiros, ponto alto do seu repertório até os dias de hoje, mas que a família continua impedindo novas gravações, principalmente depois de Fagner ter mexido mais uma vez com a obra da poetisa para fazer Motivo, incluída no seu disco de 1979 – também impedido de ser lançada.
O próprio Fagner, pensando que a poeira havia baixado, tentou regravá-la para o seu CD Amigos & Canções, lançado ano passado para justamente comemorar os 25 anos de carreira discográfica. Mesmo pretendendo dar todos os créditos e pagar os direitos autorais, os descendentes são taxativos a não quererem conversa.
Outro ponto alto do CD é Sina, creditada à parceria de Fagner e Ricardo Bezerra. Lá no sertão do Cariri, o poeta Patativa do Assaré levantou a voz e provou que a poesia era de sua autoria.
Fagner tirou o seu da reta e apontou Ricardo com sendo responsável, já que, segundo ele, a letra teria sido passada pelo seu parceiro. Até então conhecido como autor da saga sertaneja, imortalizada por Luiz Gonzaga, A Triste Partida, Fagner se redimiu com Patativa ao produzir seus primeiros registros fonográficos pela então gravadora CBS, logo depois de o poeta ter participado do projeto coletivo Massafeira Livre (l980).
Como se não bastasse, agora Penas do Tiê, outro ponto alto do LP de estreia do cearense, num belíssimo dueto com Nara Leão, foi acusado de ser a música Você, de Hekel Tavares e Nair Mesquita, devidamente maquiada.
Naquele disco e nas regravações posteriores – inclusive o já citado Amigos & Canções, em novo dueto com Nana Caymmi -, a música é creditada como adaptação do folclore, usando o velho recurso do “Domínio Público”, típica de obras cujos os autores se perderam no tempo. Você foi registrada originalmente, em 1928, por uma cantora lírica da época. Agora, o filho do compositor, Alberto Hekel Tavares, reivindica uma indenização de R$ 400 mil. Fagner considerou a quantia muito alta. Mas, afinal são 26 anos de abuso.
(*) Depois de muitas ações judiciais, durante anos, envolvendo Fagner e as famílias de Hekel Tavares e de Cecília Meireles, finalmente as pendências econômicas foram resolvidas. Canteiros, por exemplo, fez parte do DVD que o artista gravou, no ano passado, comemorativo dos 35 anos de carreira.

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