13 de jul. de 2010

E o JB se foi

Uma das capas de jornais mais corajosas da imprensa brasileira: uma dia após a decretação do famigerado AI-5, pela ditadura militar, no dia 13 de dezembro de 1968, impondo a censura no país, o Jornal do Brasil, lá no alto esquerdo da primeira página, dava uma pista para os seus leitores, via uma metáfora, sobre a gravidade da situação: "Tempo negro. Temperatura sufocante. O ar está irrespirável.
O país está sendo varrido por fortes ventos.
Máx.: 38º em Brasília. Mín.: 5º, nas Laranjeiras".

Hoje, realmente, li notícias tristes e que de alguma forma ligadas à minha vida profissional. A notícia do desaparecimento do edição impressa do Jornal do Brasil(vejam a notícia abaixo). Velho JB que fez parte de toda a minha formação jornalística ao tempo da Faculdade de Comunicação da UFC, e depois quando eu já militava pelas redações, nos meus primeiros anos de batente. Ah, as manhãs de domingo eram sagradas, pelo ritual de ir à praça do Ferreira, na banca do Bodinho, comprar o JB. Fazia fila. Mais de 300 jornais eram vendidos. E quando o avião atrasava (pois o JB era impresso no Rio de Janeiro), os ávidos leitores retornavam à tarde para apanhar o vespertino carioca. Era o jeito, pois passar o domingo sem o JB não tinha nenhuma graça. Tempos bons, aqueles.
Deu em O Globo

JB: apenas versão na Internet

Tanure diz que ‘decisão de acabar com o papel está sendo tomada esta semana’

O "Jornal do Brasil", um dos mais antigos do país — que teve a sua primeira edição impressa em 1891 —, vai deixar de circular.

A data para o fim da versão em papel será decidida entre amanhã e quinta-feira, disse ontem o empresário Nelson Tanure, dono da marca.

Com dívidas estimadas em R$ 100 milhões e vendo a circulação despencar, Tanure tentou encontrar um comprador para o jornal. Sem sucesso na sua empreitada, decidiu manter o jornal só na internet.

— A decisão de acabar com o papel está sendo tomada esta semana. Teremos uma decisão na quarta-feira ou na quinta-feira. Provavelmente, seremos o primeiro jornal a estar apenas na internet. É algo que está acontecendo no mundo todo — disse Nelson Tanure.

Ontem, Tanure confirmou a saída de Pedro Grossi, que ocupava a presidência do "JB" há apenas quatro meses: — Eu demiti o Pedro Grossi porque ele era a favor de continuar no papel — disse.

Em carta a editores e diretores do "JB", e reproduzida no site "Janela Publicitária", Grossi diz que "Em almoço realizado hoje (ontem), na presença do Dr. Ronaldo Carvalho e da Dra. Angela Moreira, o Dr. Nelson Tanure informou que publicará na edição de amanhã (hoje) do Jornal do Brasil (JB) uma notificação assinada pela direção da empresa e dirigida aos leitores na qual explica a transposição do jornal escrito para o tecnológico.Considerando que isto contraria a razão pela qual fui contratado, solicito, sem perda de meus direitos, que o expediente do jornal e de todas as revistas não conste mais meu nome".

Procurado pelo GLOBO, Grossi, no entanto, diz que só deixará o cargo de diretor-presidente do "JB" assim que a empresa anunciar o fim da publicação impressa.

— Enquanto tiver jornal impresso, eu continuo presidente. Quando for comunicada a transposição do papel para a internet, eu estou fora. Não fui contratado para isso — afirmou Grossi.

Segundo a sua assessoria de imprensa, o "Jornal do Brasil" conta com 180 funcionários, sendo 60 jornalistas, que trabalham na redação. O "JB" tem hoje tiragem de 17 mil exemplares nos dias de semana e de 22 mil aos domingos.

Na redação do jornal, o clima é de tristeza e nervosismo. Ontem, dois funcionários passaram mal e voltaram para casa.

Até agora só foram depositados R$ 800 na conta dos empregados referentes ao mês trabalhado em junho. Ainda não houve comunicado formal sobre o destino do jornal.

O diário é editado na Casa Brasil e em seu prédio anexo, no Rio Comprido. Segundo funcionários, a Casa Brasil, onde ficavam os executivos da empresa, será devolvida.

A presidente do Sindicato dos Jornalistas do Rio, Suzana Blass, disse que pedirá audiência com Tanure para discutir o futuro dos empregados: — Queremos garantir uma empregabilidade mínima e o pagamentos da rescisão.

Diretor-executivo da Associação Nacional de Jornais (ANJ), Ricardo Pedreira, lamentou o fim da versão impressa do "JB", mas fez questão de frisar que este é um caso isolado e que aposta no crescimento da circulação dos jornais no país este ano:

— É lamentável que o JB termine. Foi um processo de equívocos empresariais que resultaram em decadência editorial.

Em 2009, a circulação diária de jornais pagos no país foi de 8,193 milhões, recuo de 3,46% em relação a 2008, quando a circulação crescera 5%. Os números incluem a tiragem do "JB", apesar de o jornal ter deixado a associação em 2004.

A ANJ não fornece dados específicos sobre qualquer jornal.

Segundo o Instituto Verificador de Circulação (IVC), no primeiro quadrimestre deste ano, o setor já registrou um crescimento de 1,5%. Desde setembro de 2008, o "JB" não era mais auditado pelo IVC.

O presidente da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), Maurício Azêdo, também lamenta o processo de decadência do jornal.

— É uma notícia triste e mostra o momento nocivo por que passa o mercado jornalístico — diz ele.

Azêdo lembra que o "JB" era um paradigma para coberturas importantes e recorda edições memoráveis, como a de 13 de dezembro de 1968, data do Ato Institucional Número 5 (AI-5), que acabou com garantias constitucionais e deu ao presidente da República poder de fechar o Congresso.

Naquele dia, o "JB" publicou a previsão do tempo na primeira página, dizendo que as condições climáticas eram adversas.

Nelson Tanure arrendou o "JB" em 2001. Entre 2002 e 2003, o empresário teve os direitos de publicação da revista americana especializada em economia "Forbes" no Brasil. Em 2003, arrendou o diário econômico "Gazeta Mercantil".

Em grave crise e com dívida trabalhista superior a R$ 200 milhões, Tanure rescindiu o contrato de licenciamento do uso da marca e devolveu o jornal a seu antigo dono Luiz Fernando Levy.

Em junho de 2009, a "Gazeta" deixou de circular.

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