5 de jul. de 2009


O beato, o meu apê,
a Igreja e o massacre


Dentre as obras de arte que ornamentam o meu apê, guardo uma com todo o carinho: a escultura entalhada, em madeira, pelo artesão Beto que retrata o beato José Lourenço, personagem importante na história de Juazeiro do Norte.



O trabalho artístico é peça única sobre o beato, pois foi pedido meu ao amigo Álvares, que mora em Juazeiro do Norte, e a encomendou ao escultor. Pois, segundo Álvares (conhecido no bar do Bigode, lá na Cidade 2.000, pelo apelido de Padre Cícero) se existem, aos milhares fotos, esculturas, xilogravuras e outras quinquilharias, referenciando o Padre Cícero Romão Batista, não tem uma imagem, personificando o beato José Lourenço.



Na realidade o que acontece é que a porção histórica do beato fundador do Caldeirão (lugar vizinho a Juazeiro do Norte, onde José Lourenço formou uma espécie de sociedade socialista, entre 1928 e1937) ficou restrita a estudos acadêmicos.



No Caldeirão funcionavam engenho de rapadura, casa de farinha, tecelagem, carpintaria e oficina de ferreira. Uma comunidade autossustentável economicamente. E isso incomodava os grandes latifúndios, as autoridades e também a igreja católica apostólica romana. Era um bonito exemplo de reforma agrária.



E por isso, o Caldeirão foi invadido pela polícia, destruído e grande parte dos seus habitantes mortos.


O que falta, ainda ser melhor, esclarecido pela própria Igreja são as causas do massacre, a participação tanto do Padre Cícero como dos Irmãos Salesianos, radicados em Juazeiro do Norte.


O padre Cícero, porque enganou o Beato José Lourenço ao ceder o sítio Caldeirão para a comunidade e pouco antes de morrer, aos 90 anos, em 1934 (na sua derradeira tentativa de agradar a Igreja e readquirir os direitos de praticar ofícios religiosos, destinou grande parte de sua fortuna latifundiárias aos Irmãos Salesianos) incluiu também o Caldeirão.



E os Irmãos Salesianos tiveram sua cota no massacre. Em 1998, entrevistei, 61 anos depois da tragédia, para o jornal Diário do Nordeste) o general Goes de Campos Barros que à época foi o comandante das tropas destruidoras do Caldeirão. Ele, arrependido, foi taxativo: “Provavelmente, se os Irmãos Salesianos tivessem constatado que aquilo se transformaria numa violência, teriam tomado todas as providências, e com certeza, não pediriam forças militares para resolver o problema. Eles foram inflexíveis com o beato José Lourenço e seus seguidores”.


Nunca a Igreja fez a remissão desse pecado.

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