A Cigarra e as multinacionalmas
A Cigarra e a Formiga, uma das fábulas recontada por La Fontaine e que ensina que os que não pensam no dia de amanhã, pagam sempre um alto preço por sua imprevidência.
Como La Fontaine fez a sua versão da fábula, originalmente atribuída a Esopo, Millôr Fernandes mandou a sua, nesta semana, para os leitores da revista Veja. Ficou legal:
Como La Fontaine fez a sua versão da fábula, originalmente atribuída a Esopo, Millôr Fernandes mandou a sua, nesta semana, para os leitores da revista Veja. Ficou legal:
A CIGARRA E A FORMIGA (2009)
Cantava a Cigarra
Em dó sustenidos
Quando ouviu os gemidos
Da Formiga,
Que bufando e suando,
Ali, num atalho,
Com gestos precisos
Empurrava o trabalho:
Folhas mortas, insetos vivos.
Ao ver a Cigarra
Assim festiva,
A Formiga perdeu a esportiva:
“Canta, canta, salafrária,
E não cuida da espiral inflacionária”
No inverno,
Quando aumentar a recessão maldita,
Você, faminta e aflita,
Cansada, suja, humilde, morta,
Virá pechinchar à minha porta.
E, na hora em que subirem
As tarifas energéticas,
Verá que minhas palavras eram proféticas.
Aí, acabado o verão,
Lá em cima o preço do feijão,
Você apelará pra formiguinha.
Mas eu estarei na minha
E não te darei sequer
Uma tragada de fumaça!”
Ouvindo a ameaça,
A Cigarra riu, superior,
E disse com seu ar provocador:
“Você está por fora,
Ultrapassada sofredora.
Hoje eu sou em videocassete
Uma reprodutora!
Chegado o inverno,
Continuarei cantando
- sem ir lá –
No Rio,
São Paulo
Ou Ceará.
Rica!
E você continuará aqui
Comendo bolo de titica.
O que você ganha num ano
Eu ganho num instante
Cantando a Coca,
O sabãozão gigante,
O edifício novo
E o desodorante.
E posso viver com calma
Pois canto só pra multinacionalma”.
Em dó sustenidos
Quando ouviu os gemidos
Da Formiga,
Que bufando e suando,
Ali, num atalho,
Com gestos precisos
Empurrava o trabalho:
Folhas mortas, insetos vivos.
Ao ver a Cigarra
Assim festiva,
A Formiga perdeu a esportiva:
“Canta, canta, salafrária,
E não cuida da espiral inflacionária”
No inverno,
Quando aumentar a recessão maldita,
Você, faminta e aflita,
Cansada, suja, humilde, morta,
Virá pechinchar à minha porta.
E, na hora em que subirem
As tarifas energéticas,
Verá que minhas palavras eram proféticas.
Aí, acabado o verão,
Lá em cima o preço do feijão,
Você apelará pra formiguinha.
Mas eu estarei na minha
E não te darei sequer
Uma tragada de fumaça!”
Ouvindo a ameaça,
A Cigarra riu, superior,
E disse com seu ar provocador:
“Você está por fora,
Ultrapassada sofredora.
Hoje eu sou em videocassete
Uma reprodutora!
Chegado o inverno,
Continuarei cantando
- sem ir lá –
No Rio,
São Paulo
Ou Ceará.
Rica!
E você continuará aqui
Comendo bolo de titica.
O que você ganha num ano
Eu ganho num instante
Cantando a Coca,
O sabãozão gigante,
O edifício novo
E o desodorante.
E posso viver com calma
Pois canto só pra multinacionalma”.
Fabulosa... irreverente, retrata bem os tempos de hoje. Andréa Lima (Borborema - PB)
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