22 de ago. de 2010

Diretor de beijo gay eleitoral
diz que não queria chocar



Deu no IG


Alvo de críticas de diversas lideranças religiosas e de políticos conservadores, o diretor do programa do PSOL (Partido Socialismo e Liberdade), que exibiu um beijo gay entre dois jovens durante o horário eleitoral, afirma que não teve a intenção de causar polêmica ou escandalizar as famílias brasileiras com o filme. Arquiteto e diretor de peças publicitárias do PSOL desde 2008, Pedro Ekman diz que se surpreendeu com o tamanho da polêmica causada pelo filme, mesmo avaliando que a peça geraria reações.
“Apesar da política ainda ser conservadora, nós temos a maior Parada Gay do mundo e já deveríamos estar acostumado com essas cenas”, diz o diretor. “Qualquer um que anda pelas ruas da cidade ou vê telejornal já se deparou com dois homens de mãos dadas ou trocando um beijo”, completa.

Polêmica
O programa eleitoral do PSOL que exibiu o beijo gay entre dois jovens foi, de longe, o assunto mais comentado nessa primeira semana eleitoral em São Paulo. Apesar do beijo ter menos de cinco segundos, foi suficiente para escandalizar várias pessoas. Conforme o iG já adiantou, a primeira manifestação pública contrária ao filme veio do relator do conselho político da Convenção Geral das Assembleias de Deus no Brasil, Lelis Washington Marinhos. Ele defende que o Ministério Público e os partidos adversários entrem com ação no Tribunal Regional Eleitoral (TRE-SP), proibindo novas veiculações do programa e punindo o PSOL. O evangélico chama a peça de “deplorável” e “grande provocação à sociedade brasileira”.
No meio político, por exemplo, o candidato à Presidência da República José Maria Eymael, do Partido Social Democrata Cristão (PSDC), chamou a atitude do PSOL de escandalosa. “Foi um mal momento do PSOL. Embora nós respeitemos a opção sexual de cada um, não podemos aceitar uma atitude que fere os valores da família brasileira. O horário político deve ser utilizado para apresentar propostas, não com atitudes que possam constranger a maior parte das famílias”, afirmou.
Por conta da polêmica, a direção da campanha de Paulo Búfalo ainda avalia se produzirá novos programas na mesma linha. O diretor de programas do PSOL diz que, por hora, avalia-se apenas a possibilidade de repetir o filme em algum momento da campanha na tv, que está apenas começando e vai até 30 de setembro.





A cena gay exibida no programa do PSOL recebeu críticas até do responsável pelo primeiro beijo entre homens da TV brasileira

Muito se falou durante toda a semana sobre o beijo gay do PSOL ter sido o primeiro da televisão brasileira, em virtude das novelas da TV Globo, que insistem em não exibir demostrações de carinho entre pessoas do mesmo sexo, mesmo abordando exaustivamente o tema em suas telenovelas. Porém, vasculhando os livros da história da televisão, o iG encontrou menções de que a novela “Calúnia”, dirigida por Walter Foster na TV Tupi em 1951, foi a primeira a exibir um beijo lésbico entre as atrizes Vida Alves e Geórgia Gomide.

Apesar disso, não há registro público disponível sobre esse primeiro beijo gay da tv. O primeiro registro é da minissérie “Mãe de Santo”, exibida pela TV Manchete em 1990. Substituta da nova novela “Pantanal”, a minissérie mostrou timidamente o primeiro beijo gay entre dois homens no horário nobre. Por conta da baixa audiência, a minissérie durou menos de um mês no ar e a cena entre os personagens Lúcio e Rafael não causou grande repercussão na mídia.

O iG procurou o diretor da trama na época, Henrique Martins, que não se lembrava do episódio ter sido o primeiro beijo gay na TV. Com 76 anos, ele nem se lembrava da cena rodada na Bahia. Quando descrevemos como foi a cena, Martins disse que tinha apenas uma vaga lembrança, mas não se recordava da repercussão do assunto na época. “A internet não existia ainda e o Brasil estava preocupado com outros assuntos”, disse ele.

Perguntado sobre o que achava da cena exibida no horário eleitoral, o diretor de “Mãe de Santo” disse que era totalmente desnecessária. “Acho uma apelação gratuita. Isso leva tempo até a sociedade se acostumar. Tem que ir devagarzinho, em passos lentos. Antigamente não tinha passeata gay, hoje tem. É uma coisa que vai se conquistando degrau por degrau, sem chocar ou escandalizar”, avalia Henrique Martins, que também é ator e interpretou recentemente o senador Érico na novela “Ribeirão do Tempo”, atualmente no ar pela TV Record.

Diretor de grandes produções como “Sangue do Meu Sangue” (SBT, 1995) , “Os ossos do Barão” (SBT, 1997), “As pupilas do senhor reitor” (SBT, 1994), “Éramos seis” (SBT, 1994), “Cidadão Brasileiro” (Record, 2006) e “Revelação” (SBT, 2009), Henrique Martins lamenta que ainda existam restrições nas novelas em relação ao beijo gay: “A censura interna nas diretorias das emissoras ainda impedem que coisas como essa aconteçam”, desabafa. “Tenho esperanças de ainda ver esse resquício de censura liberada antes de eu morrer”, brinca o diretor, cujo nome de batismo é Hanez Schlesinger.


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