13 de abr. de 2010



Entre sem bater

Em algum lugar vocês já leram a frase “Entre sem bater”, pois o autor é um dos personagens mais marcantes e emblemáticos do Brasil, e que foi batizado há 80 anos, como o Barão de Itararé. Itararé é uma cidade paulista, onde aconteceria, em 1930, o enfrentamento entre as forças da Velha República e os revolucionários comandos por Getúlio Vargas. Só que essa “guerra” nunca existiu, pois ambos os lados desistiram.

O jornalista Fernando Apparicio Brinkerhoff Torelly, um grande gozador da época, aproveitou o mote da “batalha que não houve” e criou o personagem. Segundo Leandro Konder, autor de Barão de Itararé: o humorista da democracia, o compromisso fundamental do Barão era com a liberdade. E era debochado nas suas críticas e foi preso muitas vezes por conta das suas ironias, principalmente contra os políticos e autoridades. É o caso, por exemplo, de “Entre sem bater”. Tudo por conta da publicação de folhetim feito por ele sobre a Revolta da Chibata, liderada por João Cândido, e que ofendeu as forças navais. O Barão foi detido na rua, espancado e abandonado nu. Satirizando a situação, ao voltar ao trabalho, na redação do jornal A Manha, pregou na porta o aviso: “Entre sem bater”.

Sempre irreverente, o Barão, novamente, foi preso em 09 de dezembro de 1935, por ser militante e um dos fundadores da Aliança Nacional Libertadora, permanece "em cana" durante todo o ano de 1936, primeiro a bordo do navio presídio D. Pedro I, depois na Casa de Detenção do Rio de Janeiro; juntamente com Hermes Lima, Eneida de Morais, Nise da Silveira e Graciliano Ramos. Dona Zoraide, sua segunda mulher, falece nesse ano. No dia 27 de janeiro de 1939 é preso novamente por três dias. O fato se repetirá diversas vezes até o fim do Estado Novo.

Algumas máximas do Barão

De onde menos se espera, daí é que não sai nada.

. Mais vale um galo no terreiro do que dois na testa.

. Quem empresta, adeus...

. Dize-me com quem andas e eu te direi se vou contigo.

. Pobre, quando mete a mão no bolso, só tira os cinco dedos.

. Quando pobre come frango, um dos dois está doente.

. Genro é um homem casado com uma mulher cuja mãe se mete em tudo.

. Cleptomaníaco: ladrão rico. Gatuno: cleptomaníaco pobre.

. Quem só fala dos grandes, pequeno fica.

. Viúva rica, com um olho chora e com o outro se explica.

. Depois do governo ge-gê, o Brasil terá um governo ga-gá. ( Ge-gê: apelido de . . Getulio Vargas. Ga-gá: referia-se às duas primeiras letras no sobrenome do novo presidente, Eurico Gaspar Dutra).

. Um bom jornalista é um sujeito que esvazia totalmente a cabeça para o dono do jornal encher nababescamente a barriga.

. Neurastenia é doença de gente rica. Pobre neurastênico é malcriado.

. O voto deve ser rigorosamente secreto. Só assim , afinal, o eleitor não terá vergonha de votar no seu candidato.

. Os juros são o perfume do capital.

. Urçamento é uma conta que se faz para saveire como debemos aplicaire o dinheiro que já gastamos.

. Negociata é todo bom negócio para o qual não fomos convidados.

. O banco é uma instituição que empresta dinheiro à gente se a gente apresentar provas suficientes de que não precisa de dinheiro.

. A gramática é o inspetor de veículos dos pronomes.

. Cobra é um animal careca com ondulação permanente.

. Tudo seria fácil se não fossem as dificuldades.

. Sábio é o homem que chega a ter consciência da sua ignorância.

. Há seguramente um prazer em ser louco que só os loucos conhecem.

. É mais fácil sustentar dez filhos que um vício.

. A esperança é o pão sem manteiga dos desgraçados.

. Adolescência é a idade em que o garoto se recusa a acreditar que um dia ficará chato como o pai.

. O advogado, segundo Brougham, é um cavalheiro que põe os nossos bens a salvo dos nossos inimigos e os guarda para si.

. Senso de humor é o sentimento que faz você rir daquilo que o deixaria louco de raiva se acontecesse com você.

. Mulher moderna calça as botas e bota as calças.

. A televisão é a maior maravilha da ciência a serviço da imbecilidade humana.

. Este mundo é redondo, mas está ficando muito chato.

. Pão, quanto mais quente, mais fresco.

. A promissória é uma questão "de...vida". O pagamento é de morte.

. A forca é o mais desagradável dos instrumentos de corda.

Apparício Torelly, (o "Barão de Itararé), que também usou o pseudônimo de "Apporelly", era gaúcho de Rio Grande, nascido em 29/01/1895. Estudou medicina, sem chegar a terminar o curso, e já era conhecido quando veio para o Rio fazer parte do jornal O Globo, e depois de A Manhã, de Mário Rodrigues, um temido e desabusado panfletário. Logo depois lançou um jornal autônomo, com o nome de "A Manha". Teve tanto sucesso que seu jornal sobreviveu ao que parodiava. Editou, também, o "Almanhaque — o Almanaque d'A Manha". Faleceu no Rio de Janeiro em 27/11/71.


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