8 de set. de 2009








O livro, contando a história de um dos maiores jogadores do futebol cearense, está escrito. Só falta ir para o prelo. Seu personagem, porém, não verá seu lançamento: Mozart Gomes faleceu ontem.
Os leitores da Singular leram, na edição de agosto de 2007, depoimento do autor da biografia autorizada do ex-craque Mozart, o escritor e funcionário público Saraiva Jr. Aqui reproduzido:


“A história do futebol cearense e de seus principais astros ainda tem muito para se contar. No que diz respeito às biografias, então, existe um grande vazio. Não se pode negar que o futebol alencarino foi um celeiro de craques, inclusive com destaques nacionais, como foi o caso de Pacoti, Babá, Fernando Sátiro, Mirandinha, Dudu Cearense e Mozart Gomes. Todos esses jogadores, infelizmente carecem de uma biografia.
Decidi escrever, como admirador de seu futebol, a história de Mozart Araújo Gomes, o Mozarzinho, sem dúvida, um dos maiores jogadores de futebol cearense de todos os tempos. E olha que não estou sozinho com essa afirmação. Compartilham dela ilustres jornalistas, como o conhecido Tom Barros e o saudoso Blanchard Girão. Filho do tenente do exército, Francisco Mozart Cavalcante Gomes e de dona Maria Alzira Araújo Gomes, Mozarzinho iniciou sua carreira muito cedo e aos 16 anos de idade, em 1956, fora convocado para a seleção cearense de futebol.
É interessante mencionar que o tenente Mozart foi de roupeiro a técnico e presidente do Fortaleza Esporte Clube, no fim da primeira metade do século XX. Outra observação importante é que seu tio França, pelo lado materno, foi um dos grandes craques e goleador do Pici. E o inesquecível ponta-direita Moésio Gomes, seu irmão. Não é à toa quando se diz que Mozarzinho nasceu em um ninho de craques.
Seu futebol brotou em meio aos campos de pelada do bairro da Gentilândia, na capital cearense, e despontou pelo Fortaleza Esporte Clube, Remo de Belém, Náutico de Pernambuco e o Fluminense do Rio de Janeiro, seus principais clubes. Em 1957, em sua melhor fase, jogando pelo Náutico Atlético de Capibaribe, ele teve seu nome lembrado para compor a seleção brasileira de futebol que iria fazer uma excursão pela América Latina, visando à preparação da Copa do Mundo de 1958.
Lembro-me da primeira vez em que vi Mozart jogando; foi pelo América, em 17 de abril de 1964, que aplicou uma goleada de 4 a 1 contra o Ceará Sporting Clube. Ele fez de tudo naquele jogo e saiu como herói da partida. Poucos anos depois, passei a residir em Fortaleza e pude presenciar outras partidas com Mozart. Em minha opinião, ele conseguiu reunir o talento de três grandes craques do futebol mundial, por causa das arrancadas no contra-ataque e dos dribles desconcertantes nos marcadores, ele lembrava, por antecipação, as jogadas do craque argentino Diego Maradona; ao fazer de conta que iria driblar para o lado direito e, numa fração de segundos, ajeitar a bola para a perna esquerda e soltar uma bomba, quase sempre indefensável ao goleiro, ele lembrava o craque Rivelino; ao jogar de cabeça erguida, demonstrando uma visão total do campo, ocupando seus espaços com inteligência e movimentando-se entre os adversários, sempre receptivo a receber a bola de seus companheiros, sem errar no passe de bola, Mozart se fez um excepcional jogador de futebol.
Foi uma pena que a bebida, as paixões desenfreadas e o consequente aumento de peso tenham quase sucumbido sua brilhante carreira de jogador de futebol. Ele ainda daria a volta por cima ao retornar do Rio de Janeiro e fazer belas atuações pelos grandes times cearenses, como Fortaleza, América, Ferroviário e (pasmem!) Ceará, na década de 60”.

Mozart, jogando pelo Fluminense. É o segundo, agachado, da esquerda para a direita



Mozart sendo entrevistado pelo seu biógrafo, Saraiva Jr.

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