18 de ago. de 2009

Memórias de um ex-guerrilheiro

O juiz
aposentado do Tribunal Regional do Trabalho, Sílvio Mota, lança, na próxima quinta-feira, às 19 horas, o livro Rebelde, no Sindicato dos Bancários, sobre a sua atuação no movimento de guerrilha acontecido no Brasil, durante o regime militar e suas vivências na clandestinidade. Vou antecipar para vocês algumas informações contidas no livro, pois eu o entrevistei para Singular, em 2007. Pela primeira vez, ele falou sobre suas memórias.
Eis trechos da entrevista:

Como a foi sua convivência, participando das manifestações estudantis e sindicais, nas ruas de Fortaleza, como militante do Partido Comunista Brasileiro, naquele tempo de turbulência política, nos anos 60 do século passado?

Na verdade, eu não tinha uma grande participação no movimento estudantil. O meu engajamento era mais partidário, pois entrei para o PCB, em 1963. Trabalhei na área de propaganda do partido, distribuindo folhetos, pequenos livretos, pichações, aproveitando aquela efervescência que acontecia na cidade. Participei de curso, ministrado pelo Apolônio de Carvalho, um dos figurões do partido.

Havia consenso entre os militantes do PCB para enfrentar o golpe militar de 1964?
Não. Havia uma luta muito grande dentro do partido contra aquela orientação passiva do Luiz Carlos Prestes, secretário geral do partido. Como por exemplo, a proposta de não resistir ao golpe dos militares. Lembro também de que pouco tempo depois chegou, aqui em Fortaleza, o José Sales de Oliveira, que tinha tomado parte da resistência, no prédio da UNE, no Rio de Janeiro. Daí resultou numa luta interna. Nosso grupo (eu, o Sales, o Aquino – liderança dos bancários do Banco do Nordeste) saiu do PCB, e partimos para formar um núcleo dentro do PC do B (Partido Comunista do Brasil). Aliás, não deu certo nossa convivência com os integrantes do partido. Ficamos pouco mais de um ano.
Por quê?
Ficamos desiludidos, também dentro do PC do B, porque eles só acreditavam nas práticas de rua, luta de massa e nós na resistência armada.
E como o senhor entrou para o grupo armado Ação Libertadora Nacional (ALN)?
Estava surgindo a ALN, comandada por Carlos Marighella, e as propostas coincidiam com aquilo que pensávamos e estávamos fazendo. Fomos para São Paulo se encontrar com ele, em 1967, depois voltamos e passamos a organizar um trabalho de base no meio estudantil, pois o momento dos estudantes estava no auge.
Nesse tempo como era sua vida? Estava já na clandestinidade?
Ainda não. Tinha a minha vida normal, cuidava da minha família e trabalhava normalmente. E ao mesmo tempo, participava das ações. Em 1969, Marighella falou-me que já estava na hora de eu ir fazer um treinamento em Cuba, pois a ALN precisava formar o oficialato da guerrilha. Fui. Passei a ser clandestino. Antes, participei da guerrilha urbana, no Rio, com ações de recuperação de armas.

Como aconteceu sua volta à cidadania?
Posteriormente, depois do treinamento de guerrilha em Cuba, segui para Portugal, e depois, França. Em 1979, saí da clandestinidade e voltei a residir no Brasil.

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