Graciliano Ramos para Presidente
A lengalenga das promessas vãs dos políticos, nesse 2010, vai voltar mais do que nunca aceleradíssima. Tudo por contas das eleições. “Ganharemos” (nas propagandas eleitorias), um outro mundo, delicioso, repleto de bonanças. Tudo engana-bobo. O encantamento de Manuel Bandeira Vou-me embora pra Pasárgada. Lá sou amigo do rei. Lá tenho a mulher que eu quero. Na cama que escolherei ...é tostão furado diante do mundo novo anunciado pelos profissionais da política, via marqueteiros.
Sem muito lero, o que quero mesmo dizer é que irei votar para governar o País naquele candidato que tenha o perfil de Graciliano Ramos, à época prefeito de Palmeira dos Índios, em Alagoas.
O negócio é o seguinte: quando da sua prestação de contas ao governo do Estado, relativa ao ano de 1928, Mestre Graça deu exemplo de austeridade de homem público comprometido com a gestão fiscal responsável.Ao redigir relatórios da administração, o autor de São Bernardo, Vidas Secas, Memórias do Cárcere...deu exemplo de respeito e de ética no trato com os bens públicos. Vejam parte do relatório (a partir do relatório o seu brio literário começou a florecer):
“ Havia em Palmeira inúmeros prefeitos: os cobradores de impostos, o Comandante do Destacamento, os soldados e outros que desejassem administrar.Cada pedaço do Município tinha a sua administração particular, com Prefeitos Coronéis e Prefeitos Inspetores de Quarteirões. Os fiscais, esses resolviam questões de polícia e advogavam.Para semelhante anomalia desaparecesse, lutei com tenacidade e encontrei obstáculos dentro da Prefeitura e fora dela – dentro, uma resistência mole, suave, de algodão em rama; fora, uma campanha sorna, carregada de bílis. Pensavam uns que tudo ia bem nas mãos de Nosso Senhor, que administra melhor do que todos nós, outros davam três meses para levar um tiro.Dos funcionários que encontrei em janeiro do ano passado restam poucos. Saíram os que faziam política e os que não faziam coisa nenhuma. Os atuais não se metem onde não são necessários, cumprem suas obrigações e, sobretudo, não se enganam em contas. Devo muito a eles.Não se a administração do Município é boa ou ruim. Talvez pudesse ser pior ”.
Entre os funcionários que Graciliano demitiu, um deles era encarregado de matar porcos que parambulavam pelas sujas de Palmeira dos Índios. Após um dia de serviço, o tal funcionário, de espingarda em punho, voltou à Prefeitura assustado. Indagado por Graciliano, se tinha feito o trabalho completo, o servidor disse que não, pois matara quase todos os porcos vadios, menos os animais pertencentes ao pai de Graciliano, seu Sebastião.
Graciliano, em cima das buchas, retrucou:“Prefeito não tem pai”.
E demitiu o funcionário por não cumprir as ordens recebidas.
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