7 de jan. de 2010


Ricardo Guilherme (E), como Peraldiana, ao lado de Lúcio Leon (coronel Puxavantes)

Ricardo Guilherme, 40 anos de Teatro


Fui na última terça-feira ao espetáculo Brasileiríssimo, de Nelson Rodrigues (no Teatro José de Alencar) que iniciava as comemorações dos 40 anos de vida teatral do do ator Ricardo Guilherme. À época em que eu fazia crítica de Teatro percebia que o forte interpretativo do ator era, essencialmente, a carga dramática com que ele substanciava seus personagens. E, ainda continua com o mesmo vigor cênico. Parabéns, velho amigo (um dos poucos que ainda continua por aqui a encenar, mesmo com todas as dificuldades financeiras inerentes àqueles que teimam em fazer a arte secular).E apresento a vocês caríssimas e caríssimos internautas, a última crítica que fiz, para a minha revista impressa Singular, sobre o desempenho de Ricardo Guilherme, em 2007, na peça O Casamento da Peraldiana, de Carlos Câmara. Ele fez a personagem principal.


FEIRA DE RISOS
O crítico de artes Rubens Ewald Filho costuma lembrar que “morrer é fácil, difícil é fazer comédia”. O axioma cai uma luva para qualificar a temporada da Comédia Cearense, encenando o musical O Casamento da Peraldiana, de Carlos Câmara. E acrescento ao enunciado do crítico: é mais difícil provocar risos/aplausos torrenciais quando o espetáculo é exibido numa sala na qual o palco está inserido no meio da plateia e desprovido de rotunda, de pano de fundo e de outros acessórios cênicos.É o caso da encenação da Peraldiana, no Teatro de Arena Aldeota. O modelo de teatro similar exige, e muito, dos encenadores, pois o público está acomodado em todos os lados, dificultando uma melhor flexibilidade no manejo da cenografia, principalmente objetos de cenários.

Só que a trupe, comandada pelo experiente diretor Haroldo Serra, convive com essas restrições e alcança o fundamento básico: a empatia com a plateia.A peça, uma comédia de costumes cearenses, ambientada em meados do século XX, acontece ao redor de Peraldiana, uma viúva interiorana que vem a Fortaleza, cidade impregnada de estilo social/comportamental avançado para os seus padrões nativos.Na Capital, ela encontra um outro sertanejo, o coronel Puxavantes, que passa a assediar a donzela. A obra de Carlos Câmara tem o foco no conflito rural/urbano, permeando com aspectos arquitetônicos da antiga urbe e acrescentando o humor às nuances da sociedade fortalezense que o tempo levou.No papel principal Ricardo Guilherme, nem de longe, lembra aquele ator umbilicalmente encenador dos personagens trágicos de Nelson Rodrigues. O que, aliás, sempre o fez com competência e devoção. Não. Como Peraldiana, ele revira o baú do seu talento e traz para a luz do palco uma interpretação, no mínimo, primorosa, trazendo para si toda a responsabilidade de comandar a barulhosa feira de risos que é o Casamento da Peraldiana. Detentor de domínio absoluto de palco, Ricardo Guilherme dança, saracoteia, “sua a camisa” (no caso o vestido), imprimindo um ritmo contagiante e sacramentando casamento e cumplicidade, também com a plateia.Até nos gags visuais, o ator se assemelha à picardia de Chaplin, permeando trejeitos burlescos e olhares, às vezes de soslaio, enfaticamente zombeteiros.

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