3 de jun. de 2011

Vejam a raridade que o meu amigo Arievaldo Viana, cordelista de primeira, me enviou:

Santo Antônio na Literatura de Cordel


“Porque Santo Antonio é considerado o Santo Casamenteiro? Esse antigo folheto de João Melchíades Ferreira, o Cantor da Borborema, poeta nascido em 1869 e falecido em 1933 conta uma antiga lenda corrente em Portugal de um milagre atribuído a Santo Antonio que fez uma pobre órfã casar-se com o homem mais rico de Lisboa. Vejamos, a seguir, os principais trechos deste poema:

AS QUATRO ORFÃS DE PORTUGAL
Autor: João Melchíades Ferreira da Silva
Na capital de Lisboa
Havia uma união                                                               
De quatro donzelas órfãs
Sem pai, sem mãe, sem irmão
Servindo a moça mais velha
Como mãe de criação
(...)
A irmã mais velha morre e as outras, ainda menores, ficam desamparadas. Maria, a mais jovem, não agüentando mais a fome sai vagando pelas ruas, disposta a prostituir-se para arranjar o que comer:
Maria arrumou a roupa
E deixou anoitecer
O pedido das irmãs
Em nada quis atender
Se despediu com a noite
Dizendo vou me vender
A noite era muito escura
Porém a moça seguia
Num oitão de uma igreja
Um vulto lhe aparecia
Esse vulto era de um padre
Pegou na mão de Maria
O padre disse: filhinha
A essa hora onde vai?
O que é que tu procura
Que daqui não passa mais
Volta que tuas irmãs
 Ficaram chorando para trás
Padre é porque sou pobre
Uma órfã desvalida
Abandonei minhas manas
Para salvar minha vida
To atrás de uma pessoa
Que me dê roupa e comida
O padre disse: filhinha
Tu precisa é caridade
Então me diz se conhece
Na alta sociedade
Qual é o homem solteiro
Mais rico dessa cidade
Tem o Coronel Paulino
Que é um homem solteiro
Negociante na praça
Capitalista e banqueiro
O governo deve a ele
Grande soma de dinheiro
O padre tirou um lápis
Num papel pôs a escrever
Dirigindo o bilhetinho
De acordo a seu saber
Para o Coronel Paulino
Essa questão resolver
(...)
Quando o dia amanheceu
Maria no mesmo tino
Foi levar um bilhetinho
Ao coronel Paulino
Para saber da resposta
Qual seria o seu destino
No armazém de Paulino
Estava negociando
Uma sessão dos mais ricos
Sobre a negócio tratando
E viram aquela mocinha
Que vinha se aproximando
Eles se combinaram
Cada qual o mais ladino
Maria interrogou-se
Com o seu olhar feminino
Qual é aqui dos senhores
O grande coronel Paulino?
O coronel levantou-se
Chegou-se para Maria
Pronto, sou eu seu criado
Enquanto a moça dizia:
Trago esse bilhetinho
Para vossa senhoria
Dizia assim o bilhete:
  - Meu honrado coronel
Dê para essa moçinha
O valor desse papel
Depois pese na balança
Até chegar ao fiel...”
O coronel ainda riu-se
E disse: hora muito bem
Isto não é precisão
Que se ocupe ninguém
O peso desse bilhete
Só pesa igual um vintém
Ele pegou o bilhetinho
Pois na balança um tostão
E foi botando dinheiro
Como quem pesa algodão
E a concha do bilhetinho
Só pesava para o chão
O coronel botou todo
O ouro que possuía
Botou dinheiro em papel
Que a balança não cabia
E a concha do bilhetinho
Mais pesada não subia   
Ele arredou o dinheiro
Pesou-se com o papel
A concha do bilhetinho
Subiu e mostrou fiel
Era a honra da donzela
Que valia o coronel
O coronel disse: moça
Você é misteriosa
Qual é a sua oração
Na vida religiosa?
Este bilhete foi feito
Por uma mão milagrosa
Coronel, a minha mãe
De criação me ensinava
Santo Antonio é meu padrinho
A ele me entregava
Tomava a benção o santo
De noite quando rezava

Coronel essa noite
De casa vinha saindo
No oitão de uma igreja
Um vulto desconhecido
Mandou esse bilhetinho
Conforme vem dirigido
O coronel baixou a vista
E disse quando pensou
Então o bilhete foi
Santo Antonio quem mandou
Pra você casar comigo
Como o santo me apontou
Você é uma mocinha
Que vive em grande pobreza
A sua honra pesou
Mais do que minha riqueza
No dia que nos casar
Sou feliz por natureza
Desde ai o coronel
Tomou conta de Maria
Convidou os seus amigos
Casaram no outro dia
Mandou ver as duas órfãs
Para a sua companhia
FIM

* O exemplar que tenho deste folheto me foi presentado em Brasília, no dia 01 de setembro de 2008, por dona Rita de Oliveira Mota (Rita Salgadeira), cunhada do poeta Cícero Vieira da Silva, o "Mocó". D. Rita foi cozinheira do ex-presidente Costa e Silva e disse-me que o mesmo "morreu de desgosto". Eu perguntei então: - Desgosto de quê, dona Rita? E ela: "Chifre!"
Se isso é verdade eu não sei... apenas estou repassando a história pelo preço que colhi... Na certa o general não era devoto de Santo Antônio”.

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