4 de jun. de 2009



Entrevista mais explosiva do que esta, impossível. Ele é jornalista, escritor, historiador, biógrafo, crítico literário, dicionarista e enciclopedista. Famoso pelas polêmicas que provoca, sua linguagem é virulenta e ácida, povoada de ironia e humor. Carioca, hoje residindo em São Paulo, Fernando Jorge aniquila, sem dó, seus inimigos. Faz uso de seu tridente afiadíssimo (roubado do diabo, segundo ele) para espetar jornalistas, políticos, escritores... Caras leitoras e caros leitores desta Singular, cá com a gente, a “fera”.

O senhor herdou de quem esse estilo provocador, polêmico e de língua ferina? As poesias satíricas e os violentos ataques aos desafetos de Gregório de Matos (1623/1696), o Boca do inferno, lhes serviram de inspiração?
O meu estilo é, acima de tudo, sincero, honesto. Detesto a hipocrisia. Como disse o padre Manuel Bernardes, grande clássico da literatura portuguesa: “O hipócrita é um santo pintado, tem as mãos postas, mas não ora; o livro na mão, mas não lê; os olhos no chão, mas não se desestima”. E se Gregório de Matos, o Boca do Inferno, me inspirou, bendita fonte inspiradora! Prefiro ser inspirado por uma boca do reino de Belzebu, porém amiga da verdade, do que por uma boca de político a serviço da mentira, da falsidade, da covardia, da canalhice. Quem com a hipocrisia se deita, com o diabo se levanta, quando este é fariseu. No entanto, se o Cão Tinhoso é franco, até que ele é boa companhia.

A repulsa que os modernistas tinham pelo Parnasianismo impediu que a obra de Olavo Bilac fosse mais difundida? Como a poesia do autor de Ora (direis) ouvir estrelas! - Via Láctea-, sobreviveu diante da repugnância dos escritores brasileiros surgidos a partir do começo do século passado?
A repulsa dos modernistas pelo Parnasianismo não impediu a divulgação da poesia de Olavo Bilac. Este continuou a ser muito lido e admirado, inclusive por Mário de Andrade, o papa da Semana de Arte Moderna de 1922, realizada no Teatro Municipal de São Paulo. Aliás, Mário de Andrade é autor de um belo estudo sobre Bilac e enalteceu o seu poema O Caçador de Esmeraldas, embora Manuel Bandeira tivesse satirizado o Parnasianismo no poema Os Sapos. E o soneto Ouvir estrelas, de Bilac, terá a duração das estrelas, porque é de uma beleza pura que transcende a efemeridade das escolas literárias.

Por que a biografia de Olavo Bilac, escrita pelo senhor, foi vetada em l963 pela Academia Brasileira de Letras?
A minha biografia Vida e Poesia de Olavo Bilac, já na sua quinta edição, com mais de 100 mil exemplares vendidos, foi proibida de entrar até na sede da Academia Brasileira de Letras, pelo seu presidente à época, o Austregésilo de Ataíde, apelidado de Austregésilo de Ataúde. Motivo: eu, Fernando Jorge, fui muito irreverente, desrespeitoso, ao descrever a vida boêmia de Bilac, ao mostrar que às vezes ele se excedia no álcool. Que escândalo para os velhotes catarrosos e reumáticos daquela casa inútil e alienada! Parafraseando Guerra Junqueiro, a ABL só poderá brilhar se pegar fogo.

O seu livro A Academia do Fardão e da Confusão é uma vingança contra a ABL? Por que nem Machado de Assis escapou da sua língua virulenta e ácida? E Nélida Piñon?
O meu livro A Academia do Fardão e da Confusão, sobre a ABL, não é uma vingança contra ela. É apenas um retrato fiel dessa velhota ridícula que quer ser jovem, mas está bem esclerosada, de miolo mole, gagá. A ABL é idêntica a um necrotério, com gavetões cheios de defuntos. Puxamos um gavetão e logo aparece o corpo de um imortal “mortal”, com cara de Tutankamon, de múmia egípcia. Puxamos outro gavetão e logo aparece a Nélida Piñon, com o seu rosto de falecido ídolo azteca. Puxamos um terceiro gavetão e surge diante de nós o Paulo Coelho, com a sua fisionomia inexpressiva de falso mago e de pior escritor do mundo. Sim, a ABL é um necrotério. E Machado de Assis cometeu erros, como todos nós.

Qual o argumentação que o senhor faz uso para dizer que Rachel de Queiroz escrevia como homem?
De fato a Rachel de Queiroz escrevia como homem. Estilo de machona, bem viril. Estilo com pênis. Não é difícil ver isto. Uma vez, na revista O Cruzeiro, do Assis Chateaubriand, ela meteu o pau no estilo do Euclides da Cunha. Era um estilo machão, esculhambando outro estilo machão.

Depois que o senhor escreveu A Academia do Fardão e da Confusão, em 1999, foram eleitos para a Academia Brasileira de Letras o escritor Paulo Coelho (2002), o político Marco Maciel (2003) e o cineasta Nelson Pereira do Santos (2006), entre outros. O perfil dos “imortais” melhorou?
O perfil dos “imortais” “mortais” não piorou após a eleição do Paulo Coelho, do Marco Maciel e do Nelson Pereira dos Santos. Não piorou, degenerou. Paulo Coelho: qualquer página dos seus livros serve de exercício para a correção de textos. Ele é um campeão. Um campeão na arte de soltar disparates e erros de português. Alcançou este sucesso porque existem hoje, no mundo inteiro, milhões de apedeutas, de ignorantes, de semi-analfabetos. O ignorante não tem senso crítico, não sabe discernir, avaliar, ponderar. É a cultura que fornece o senso crítico. Quando vejo o Marco Maciel na Academia, eu pergunto: o que ele está fazendo ali? Desconfio que saiu do romance A família Agulha, do poeta Luís Guimarães Júnior, no qual todo os membros dessa família são magros, fininhos como agulhas. Talvez o Marco possa ser útil na confecção dos ridículos fardões dos acadêmicos, já que ele é uma agulha. Com linha ou sem linha? Quanto ao Nelson Pereira dos Santos, este deve ter sido eleito membro da ABL, já que é cineasta, para filmar as cenas macabras das reuniões acadêmicas, tão fantasmagóricas como as cenas de um filme de terror com o conde Drácula. Aliás, quase todos os acadêmicos me dão a impressão de terem sido sugados pelo conde, sobretudo o Marco Maciel, talvez a maior vítima do vampiro da Transilvânia.

Por que o senhor considera Paulo Coelho “uma nulidade literária vitoriosa”?
Considero o Paulo Coelho a nulidade mais vitoriosa do planeta Terra. Os seus livros devem ser impressos em papel higiênico, porque assim, pelo menos, teriam a utilidade de servir para limpar uma determinada parte do nosso corpo, situada em nosso traseiro.

Dos personagens que o senhor biografou, qual a vida que mais despertou fascínio?
De todos que eu biografei: Getúlio Vargas, Santos Dumont, Aleijadinho, Lutero, Paulo Setúbal, Olavo Bilac, o que mais me fascinou foi o Aleijadinho. A minha obra sobre ele custou trinta anos de pesquisas. Considero o Aleijadinho um símbolo do povo brasileiro, porque mesmo na adversidade ele não desistia, lutava, trabalhava, sobrevivia.

Por que o senhor não aceitou o pedido de dois ex-presidentes do Brasil (Juscelino Kubitschek e Jânio Quadros) para escrever suas biografias? Como foi a convivência do senhor com ambos?
Não aceitei o convite de Jânio e de Juscelino Kubitschek para escrever as suas biografias porque me achava mergulhado em profundas pesquisas para produzir a biografia de Getúlio Vargas. Mas ambos me deram valiosos depoimentos orais sobre este. Fiquei muito amigo dos dois.

De onde veio essa história que o senhor conta que “se não fosse o Brasil, jamais Barack Obama teria nascido”?
Estou escrevendo um livro para provar que sem o Brasil, jamais Barack Obama teria nascido. Vai ser uma bomba, pode crer, mas prefiro agora criar o suspense.

O senhor não sente remorso de o seu livro Vida e Obra do Plagiário Paulo Francis ser conhecida como “livro assassino”? Segundo o jornalista Alberto Dines, a sua obra foi responsável pelo desgaste emocional de Paulo Francis, até o fim da vida do polêmico jornalista.
Não sinto nenhum remorso por ter escrito o livro Vida e Obra do Plagiário Paulo Francis, lançado quando ele morava nos Estados Unidos, e no qual provei que o Francis era racista, odiava negros e mulatos, agia como ladrão literário, pois se apoderava de textos alheios e os publicava como sendo de sua autoria. E foi entreguista, traidor do Brasil, porque pregava a venda da Amazônia a uma potência estrangeira. Péssimo jornalista, escrevia mal e dava notícias completamente falsas. Difamava as pessoas e chegou a ser esbofeteado, por causa disso. Correu a notícia de que o meu livro e o processo da Petrobras contra ele causaram sua morte. Francis estava lendo o meu livro no banheiro, lá em Nova York, quando teve o enfarte que o matou. Se isto é verdade, sou o pai do primeiro livro assassino do mundo...

O senhor disse, certa vez, que gostaria de ver todos os “políticos, corruptos e safados, fuzilados em praça pública”. Não estaria faltando em sua bibliografia uma obra sobre e história da corrupção política, no Brasil?
Sim, eu declarei no programa Provocações, do Antônio Abujamra, que gostaria de ver os nossos políticos fuzilados em praças públicas. Mas antes, debaixo de chicotadas, eles teriam de dançar a rumba, o samba ou o xaxado, recebendo chibatadas nas bundas. E isto seria televisionado para todo o Brasil e o mundo inteiro. Que beleza, que maravilha!” Receberiam também, arremessadas pela multidão, nas suas caras repulsivas, as matérias mal cheirosas das latrinas entupidas. Se um eleitor me pedisse para redigir a história completa da corrupção no Brasil, eu teria de viver 500 anos ou mais, escrevendo sem parar.

O senhor concorda com aqueles que defendem o acordo ortográfico da Língua Portuguesa como um passo importante para a defesa da unida­de essencial da Língua Portuguesa e para o seu prestigio internacional?
O novo Acordo Ortográfico é um acordo fascista, imposto por alguns membros da Academia, como o gramaticão Evanildo Bechara, que escreve corretamente mal. É um acordo mussolínico, realizado sem haver consulta aos intelectuais, aos professores, aos estudantes, aos jornalistas, ao povo. Está repleto de disparates, incongruências. O novo Acordo Ortográficos, resumindo, é um caso de policia.

Por que o “F” de sua assinatura é grafado em forma de um tridente?
O F do meu nome, realmente, tem a forma de um tridente. De um tridente que eu roubei do diabo, para espetar a nulidade do Paulo Coelho e de outros membros da mofada Academia Brasileira de Letras, que é de tretas e não de letras.

O senhor já foi processado? Quando, o porquê e por quem?
Fui processado quatro vezes, à época do regime militar, como “escritor subversivo”. Os gorilas desse regime não gostavam de críticas, de protestos, e eu criticava, protestava. Quase fui arrastado até o DOPS, certa vez, por ordem do Erasmo Dias, ou melhor, do Erasmo Noites.

O senhor tem obra em andamento para mandar para o prelo? Quem é a próxima vítima do seu tridente?
Vão ser lançados três livros de minha autoria, em breve: a quarta edição de Academia do Fardão e da Confusão, revista e aumentada, contra a Academia Brasileira de Letras, que na minha opinião devia ser fechada, pois envergonha o nosso País; a oitava edição do meu livro Pena de Morte: sim ou não? E a minha nova obra, na qual provarei que sem o Brasil, o Barack Obama não teria nascido.

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