Olha lá o farol!
Daqui, onde moro (Bairro Papicu),
vejo o farol do Mucuripe.
Ele é o meu alvo preferido para fazer fotos.
Primeiro motivo, o óbvio: ele está localizado
bem defronte à varanda do meu ap.
O segundo: a sua imponência me encanta.
Sabe lá o que é testemunhar a briga entre os
últimos vestígios da noite com os primeiros
clarões da aurora, e no meio dessa refrega
da natureza a luz do farol esmaecendo com
as derradeiras estrelas.
Pois é, tenho esse privilégio.
.
Guardião do mar, da minha solidão
e do meu amor
Atento e vigilante, levando raios de esperança aos
navegantes que por aqui aportam, o farol do Mucuripe,
além de fazer balizamento para naus em busca de
orientação, tem outras serventias, entre as quais,
aconchegar olhares apaixonados. Também quem redige
na redação desta Singular (no caso eu), de quando em quando,
busca fonte de inspiração no feixe luminoso projetado pelo
seu espelho refletor. Pois bem, os olhos do mar, como canta
Ednardo na música Terral, em fração de segundos, apontam
para cá (a sala do meu apê) de raspão, no vai-e-vem
das horas, entre a boca da noite e o amanhecer.
Passei a observar mais amiúde aquele meu vizinho distante.
Embora sempre presente nas minhas noites, observo,
principalmente nos momentos em que o manto da solidão
teima dominar o ambiente, que ele é possuidor de muitos
detalhes intrigantes em sua comunicação luminosa.
Por que em certos dias os lampejos são mais intensos?
Em outros, o feixe luminoso tem mais altitude?
E em alguns dias, por que ele começa a funcionar
em horários alternados,
variando entre cinco e seis horas, ao entardecer?
Dúvidas? Existem. Mas, incapazes de quebrar elos no
brilho da nossa cumplicidade noturna. Esse é um pacto
silencioso e inquebrantável. Só que eu precisava entendê-lo melhor.
Não me contive: fui lá, levando no bornal caneta, papel e
máquina fotográfica. Nas dependências onde ele
está erguido, conheci um outro amigo, o Cardoso, faroleiro
experiente, já perto de se aposentar, e que pôs fim às minhas
incertezas. A partir daquele momento, comecei a conhecer
informações além da visibilidade meramente romântica deste
repórter, possuidor de cacoetes antigos, amparados na inspiração.
Fiquei sabendo que o seu hexaedro ótico giratório foi fabricado
pela firma francesa F. Barbier & Cie Construceurs, em 1840
(instalado inicialmente no antigo farol que foi desativado em 1959).
Manutenção quinzenal. É nesse trabalho que pode acontecer um
pequeno reajuste no sistema iluminante e que provoca
desvios milimétricos no conjunto das placas de cristais.
Na limpeza, as placas readquirem o brilho original e projetam raios
em toda a sua plenitude. A ligação do sistema de eletricidade
pode oscilar. Às vezes, quando é preciso ligar geradores em
substituição à rede elétrica, temporariamente em pane.
Esse serviço é feito por Cardoso, que percorre os 22 metros
da torre cilíndrica construída em alvenaria.
Fiquei satisfeito. De agora em diante, além da calmaria que
ele espraia em qualquer situação, eu trabalhando, ou pensando
na amada, com a solidão por perto, sei das suas oscilações
operacionais. Ficamos mais próximos, tornando a vizinhança
mais consistente. Saímos, o Cardoso e eu, para um barzinho
próximo, e brindamos, naquele comecinho de noite o surgimento
dos primeiros feixes luminosos, visíveis a 22 milhas náuticas
(40 quilômetros).
Timtim para você, guardião do mar, da minha solidão e
do meu amor.
Crônica publicada
na edição 13 (junho/2005).
Finalmente, a Singular na rede. Parabéns pelo blog, que de cara já se mostra "a cara" da versão impressa. E iniciando com minha crônica predileta...
ResponderExcluirValeu, Eliézer! Sucesso!
Parabéns pai, mais uma vez o senhor consegue ultrapassar os obstáculos para disponibilizar a Singular, agora, para os internautas.
ResponderExcluirFaltava na Internet os textos da Singular!!!
Eliégia
Eliézer!!
ResponderExcluirPassando aqui pra prestigiar seu trabalho, que ficou divino!
Gostei dessa crônica, bem romântica.
Parabéns!
adoro blogs e esse ja esta na minha lista, adorei a cronica sobre o farol, eu um apaixonado por farois e nem conhecia o nosso, ja valeu. muito bom.
ResponderExcluirCaro amigo,
ResponderExcluirQue alegria poder calmamente aqui das areias de Santos, poder ler o seu texto - informativo, sensivel, histórico e sobretudo banhado pelas palavras dos "verdes mares". Dizer obrigada é pouco! Sylvia
Adorei essa crônica, não conhecia esse seu lado poetico e apaixonado.Só o de "Cascavel". O blog está maravilhoso, parabéns!!
ResponderExcluirSou apaixonada pelo mar... e o seu comentário sobre o farol foi, especialmente, de uma sensibilidade... adorei!
ResponderExcluirParabéns ELIEZER por este espaço... A SINGULAR é realmente especial! Sou fã do teu trabalho.
ResponderExcluirRouxinol do Rinaré