Meu amigo Arievaldo Viana, cordelista de primeira qualidade, mandou-me e-mail, que repasso pra vocês, sobre a nova novela da Globo:
Novela Global "Cordel Encantado"
comete alguns pecados em nome
da “licença poética”
Apesar de bem-resolvida visualmente, a trama de Duca Rachid e Thelma Guedes que mistura sertão e contos de fada, poderia ter evitado alguns deslizes e valorizado mais o Romanceiro Popular Nordestino. O primeiro deslize já começa na abertura... Apesar das xilogravuras em movimento, bem no clima da Literatura de folhetos do Nordeste, a música de Gilberto Gil e Roberta Sá não se encaixa bem na proposta.
Pusessem um Alceu Valença, um Ednardo ou um Zé Ramalho para compor aquela trilha e a história seria outra. Aliás, eu vou mais longe... Para dar mais autenticidade ao folhetim, as vozes mais adequadas para aquela abertura seriam MESTRE AZULÃO ou OLIVEIRA DE PANELLAS. Estes sim, entendem de cordel, porque são do ramo e conhecem as toadas mágicas dos velhos folheteiros.
Segundo a crítica especializada, o primeiro capítulo da novela Cordel Encantado foi um dos mais bem resolvidos da atual teledramaturgia brasileira. Com a moral garantida junto à direção Globo por conta do sucesso de Cama de Gato, exibida no horário das 18h em 2010, a dupla de autoras Duca Rachid e Thelma Guedes voltou à faixa horária misturando monarquia e sertão nordestino na passagem entre os séculos 19 e 20. O pecado fica por conta dos sotaques, mas uma vez exagerados, estereotipados, distantes da realidade da maioria dos Estados da Região Nordeste. Parece que, para o povo do Sudeste, o único sotaque que prevalece é aquele do baiano preguiçoso, de fala cantada.
COISA DE CINEMA - Outra coisa que surpreendeu foi a qualidade das imagens. Por conta da captação de 24 quadros por segundo, a novela é a primeira a ter ares de cinema. Isso ficou evidente na alta definição das imagens panorâmicas gravadas na França e no Sergipe e nos closes generosos no elenco. Mas aí, vem o segundo pecado. Enquanto o figurino do núcleo de SERÁFIA está impecável, a indumentária dos “cangaceiros” passa é longe dos trajes usados por Lampião e seu bando. Estão mais para vaqueiros desajeitados, com enormes gibões medalhados e perneiras, chapéus de sola (e não o tradicional chapéu de couro do cangaço). Pode-se dizer que é por conta da licença poética, mas quem conhece a riqueza pictórica do cangaço nordestino – as roupas e bornais bordados magistralmente por Dadá e outras cangaceiras – acha que o figurino dos cangaceiros globais está paupérrimo em termos de encantos visuais.
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