1 de fev. de 2010


O cometa de Halley, o meu avô

e Austregésilo de Athayde


Tem algumas coisas que afloram da memória que a gente não sabe o porquê. Agora, há pouquinho me lembrei do meu avô (pai de minha mãe) Antonio Vicente Vasconcelos que viveu 99 anos e alguns meses. E também não sei o por quê associei a figura ao escritor Austregésilo de Athayde. Fiquei pensando, pensando e descobrir tal relação.O meu avô sempre contava ( e como ele sabia contar causos) que quando era menino tinha visto um clarão no céu. Depois descobri, pesquisando as passagens do cometa de Halley que tal aparição aconteceu em 1910. E lendo, faz tempo, as memórias de Austregésilo, o escritor falava que quando menino, aqui em Fortaleza, e estudando no Seminário da Prainha tinha visto o Halley.Fui à minha biblioteca e peguei tal livro e repassado para vocês a narrativa do autor:“Naquele ano de 1910 o cometa de Halley passou pela Terra, ‘tão grande, que tomava a metade do céu, com seu núcleo iluminado e a imensa cauda caudalosa, descendo sobre a ponta do Mucuripe’. Houve quem pensasse que era o fim do mundo e todos rezaram pedindo a Deus que impedisse a catástrofe. O reitor do Seminário explicou as razões da aparição do cometa e então todos passaram a admirá-lo.Menino de onze anos, vi esse cometa e ninguém guardará na memória, com tanto carinho, o maravilhoso espetáculo de sua presença, o mais belo do céu. Como que revejo, no começo das noites, com sua cauda imensa tocando a ponta do Mucuripe, tão belo, que parecia a Estrela de Belém. O Couturier permitia que ficássemos acordados, imersos naquela luz misteriosa até os primeiros clarões da manhã e, quando o Halley sumiu, obrigava-nos a ir para a cama. Foi com nostalgia que o vi diminuir, noite após noite, até tornar-se um pontinho no céu. Não conseguiríamos mais distingui-lo entre as estrelas e nunca mais o vimos. Então eu pensava na sua volta. Daqui a setenta e cinco anos estará de regresso, diziam os padres entendidos em astronomia. Mas onde a garantia de viver até lá? Naquelas remotas noites, setenta e cinco anos eram a própria eternidade”.

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