29 de jan. de 2010


MINHAS MEMÓRIAS


Entrevista com o médico
legista Badan Palhares


Em 2007, publiquei na minha revista impressa Singular uma entrevista que fiz, via telefone, com o polêmico médico legista Badan Palhares que acabara de lançar seu livro de memórias Por que converso com os mortos.Vejam os trechos principais:


Que tipo de linguagem o senhor conversa com os mortos?

A minha linguagem é a técnica. É a linguagem em que procuro, através dos elementos encontrados no cadáver, identificar quais são os dados ou danos causados ao corpo quando ainda em vida. E se existe algum outro dano que também possa ter ocorrido depois da morte. São através dos dados, objetivamente encontrados na macroscopia e também no exame microscópico ou em exames complementares que são realizados durante o nosso trabalho pericial.

Dentre os casos mais emblemáticos nos quais o senhor participou, as mortes de PC Farias e de sua namorada, certamente, foram as mais controvertidas. A que o senhor atribui as várias tentativas, inclusive judiciais, visando derrubar o laudo que o senhor e de sua equipe? Qual foi o papel da mídia no problema?

Primeiro: o caso PC Farias, sob o aspecto pericial, é um caso extremamente simples. Ele só ganhou notoriedade na mídia, por ser a pessoa que era, e por está envolvido com o ex-presidente Fernando Collor. O papel da mídia nesse episódio e de alguns oportunistas, foi o que determinou realmente a repercussão que o caso acabou tendo. Eu não diria incompetência, mas uma falta de conhecimento técnico dos profissionais de imprensa, dentre os quais jornalistas, radialistas que avaliaram a conjuntura e concluíram que aquilo poderia ser um caso político, levando assim a todos os questionamentos. Depois, os oportunistas de cinco minutos, querendo ganhar notoriedade, achando que a história de que ele PC tinha sido assassinado, junto com Suzana, por uma terceira pessoa. E isso provocou todo esse processo que resultou até em nomeações de novos promotores para a questão.

Tem fundamento a informação de que ufólogos teriam levado para o senhor examinar duas criaturas do ET de Varginha?

Isso foi uma imaginação de quem domina um site e que colocou esse tipo de informação para ganhar notoriedade. Eu já tive contato com um desses ufólogos e convidei para um debate público e mostrar as evidências que ,eventualmente, tinham. Ele jamais aceitou esse tipo de colocação.

Familiares de mortos e de desaparecidos políticos, durante a ditadura militar, reclamaram do senhor na condução do caso envolvendo ossadas encontradas no

cemitério de Perus, em São Paulo.

Os parentes dos desaparecidos políticos têm todo o direito de estar, incessantemente, procurando os restos mortais dos seus familiares. Acontece que a grande maioria dessas pessoas não tem conhecimento científico de como são realizadas as identificações em ossadas. E, particularmente, nas 1.049 ossadas que vieram do cemitério de Perus para cá (Unicamp), já estavam em péssimas condições de preservação. Portanto, o trabalho maior foi o de tentar encontrar nos fragmentos localizados elementos que pudessem dar sustentação científica pra nós afirmássemos, sem possibilidade de erro, que os ossos, realmente o de fulano de tal. E nós conseguimos identificar seis pessoas dessas 1.049 ossadas e acredito ser um dado histórico, pois a grande totalidade das pessoas enterradas, naquele cemitério, era indigente.

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